A Lígia do Nucab

Por Ana Maria Souza Mendes

Na apresentação que faz de si mesma, assim como dos pesquisadores que a acompanharão à Etiópia, Ligia assinala sua origem não negra. Isso me fez voltar no tempo, quando ainda graduanda, do curso de Letras, veio conhecer o espaço onde estava instalado o Nucab, no bloco da Biblioteca das Faculdades Integradas Dom Aguirre.

Seu questionamento primeiro, se bem recordo , foi quanto à postura daqueles negros que ali estavam para compor, um grupo de pesquisa no espaço acadêmico. Assinale-se que na época, eram parcas, senão inexistentes, as referências sobre a História do escravo ou de sua descendência, na educação formal. A atitude assumida pelas FIDA, embrião da futura Universidade de Sorocaba, apontando e se dispondo a discutir as questões envolvendo o segmento negro despertava estranheza e curiosidade de toda estrutura, docente ou discente.

Estudante aplicada, interessada na vida e interação dos grupos humanos, logo ofereceu-se para buscar fontes que explicassem as formas retilíneas que demarcavam as fronteiras entre Estados Independentes africanos e que elucidassem a gênese dos muitos conflitos bélicos existentes, que cobriam quase todo continente. Sua pergunta era: primitiva vontade de guerrear ou distúrbios produzidos em gabinete instalado em território fora dos limites africanos?

Pouco tempo depois, Maria Ligia apresentou, em uma das reuniões de estudos do Núcleo, suas conclusões expostas no trabalho “A Partilha da África”, o seu despertar para a filosofia de vida do africano e sua interação com o cenário onde vive, composto pela natureza e pelas intervenções político-sociais.

Maria Ligia sempre contribuiu para o fortalecimento do Núcleo, quer pela produção de conhecimento, muitas vezes explicitado na informalidade da conversa, ou pela convivência proporcionada pela troca de habilidades. O grupo a reconhece como integrante e quer sempre saber de suas impressões sobre as sentidas dificuldades ainda encontradas pelo segmento negro.

Mulher, mãe, educadora, toda vez que estabelece um campo de observação social, seus objetivos são sempre voltados ao segmento a que pertence; membro do Nucab, tendo conhecido as recentes lutas das mulheres negras, não deixa de notar e anotar as movimentações

Para “descobrir” a mulher negra brasileira, tem buscado conhecer como vivem as mulheres na África, como caminho de conceituação, o qual depende do olhar observador despido de preconceitos. Conseguida a base instrucional necessária, Maria Ligia lança-se à fase de laboratório. Entre suas perguntas estão aquelas relacionadas à mulher negra: como vive como vive essa mulher que não traz a marca de um tipo de escravismo humano, aquele praticado ao tempo da febre de expansão territorial e de poder que assolou a Europa em séculos passados, ou como essa mulher se reconhece dadas as estruturas sociais que a cercam.

O Nucab espera muito das observações de Maria Ligia Conti, na certeza de que serão marcos iniciais de novas pesquisas para ela, para o grupo, para todas as pessoas que querem a construção de conhecimento sob o olhar da diversidade.

LOGO – Descrição Heráldica

Os traços são em preto sobre fundo branco e não há cerca de fecho, simbolizando a liberdade.

Entre os contornos geográficos do Brasil e do Continente Africano, sem a busca de medidas, guardadas as proporções territoriais, existe um vazio, representando da distância entre os dois territórios, separados que são pelo Oceano Atlântico.

Nesse espaço, buscando o chão, onde o ser se firma, uma lança que dá suporte a um escudo de guerreiro africano, representando as lutas do povo negro desde os tempos de sua escravidão. Lança e escudo são encimados por um adorno de cabeça, comum entre tribos africanas como símbolo de poder. O efeito claro escuro, faz lembrar e mistura de raças ocorrida em solo brasileiro.

O escudo carrega, no centro, a sigla NUCAB. Originalmente, trazia a sigla ICAB - Instituto de Cultura Afro-Brasileira e que foi sucedido pelo Nucab, quando vem para a Uniso, em 1992.

Ao pé da lança, à direita de quem olha, uma palmeira, para representar a Terra e tudo o que nela vive. Representa também Palmares, marco das lutas pela liberdade vividas pelo afro-brasileiro.

Ana Maria Mendes - Coordenador do NUCAB/UNISO - Ago.2010
UNIVERSIDADE DE SOROCABA
NÚCLEO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA

ROTEIRO DE EXPOSIÇÃO
BREVE HISTÓRICO DA UNISO

A Uniso é resultado histórico da união da:
• FAFI -Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - letras, história, pedagogia, geografia, ciências/matemática
• FACCAS - Faculdade de Ciências Administrativas - administração, ciências contábeis, economia
OS NÚCLEOS – são órgãos complementares da gestão acadêmica, que atuam nos campos do ensino, pesquisa e extensão.
NÚCLEOS EM FUNCIONAMENTO
NUCAB - NÚCLEO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
NEAS - NÚCLEO DE ESTUDOS AMBIENTAIS
NESAU - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE
NERUS - NÚCLEO DE ESPORTES E RECREAÇÃO
NÚCLEO LOCAL DA UNITRABALHO
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
NÚCLEO DE TERAPIA OCUPACIONAL
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS SOROCABA E REGIÃO 100 ANALFABETOS
FARMÁCIA COMUNITÁRIA
UNIVERSIDADE DA TERCEIRA IDADE
PROGRAMA SOROCABA 100 EXCLUÍDOS

NUCAB

Não somos o que gostaríamos de ser
Não somos o que poderíamos ser
Mas, graças a Deus, não somos o que fomos.
Martin Luther King

INTRODUÇÃO
Na recente história de Sorocaba, vamos encontrar a participação efetiva da comunidade negra, porém de maneira dispersa, cabendo registro de suas entidades socioculturais. Destas, já nos primeiros momentos do século XX, são encontrados registros. São poucas, porém muito significativas.
Dois trabalhos específicos foram elaborados pelos professores Djalma Dias de Souza, e Jorge Narciso de Matos. Ambos foram publicados no boletim do Instituto de Cultura Afro-Brasileira, de maio de 1991, sendo o último deles, quase que uma transcrição de apontamentos de Luiz Leopoldino Mascarenhas, o idealizador da Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro, que viveu essas significativas fases.
De certa forma, os últimos setenta anos são representados pela sucessão da Frente Negra e União Negra Brasileira, dando origem ao já mencionado 28 de Setembro, entidade que ainda hoje continua a responder pela filosofia daqueles negros libertos no final do século XIX, que buscavam a integração na sociedade pós-abolicionista.

SUA ORIGEM
O NUCAB - Núcleo de Cultura Afro-Brasileira, tem sua origem associada à Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro de Sorocaba, que em 1979, na reformulação de seus estatutos, criou o ICAB - Instituto de Cultura Afro-Brasileira, que funcionou naquela entidade até novembro de 1992. No período que antecedeu a criação da Universidade de Sorocaba, entendimentos entre as Faculdades Integradas Dom Aguirre e aquela Sociedade, concordando que a característica daquele Instituto poderia ser melhor desenvolvida no ambiente universitário, decidiram pela incorporação do Instituto sob a denominação de Núcleo, sendo o primeiro a integrar a estrutura da UNISO.
O NUCAB é um órgão complementar da UNISO, tem por objetivos o desenvolvimento de pesquisas e a geração de trabalhos acadêmicos com vistas ao conhecimento e a difusão das raízes culturais africanas que influem na formação cultural brasileira; desenvolvimento de programas de intercâmbio com instituições congêneres; e difusão cultural.

CÂMARAS DE ESTUDOS
O NUCAB manteve a estrutura de trabalho do ICAB, que consiste na existência de Câmaras de Estudos, que procuram abranger todas as áreas do saber, sempre com ênfase nos estudos africanistas. Assim, o NUCAB através de suas Câmaras desenvolve pesquisas nos seguintes campos:
• Estudos Jurídicos - formula estudos de usos, costumes e o desenvolvimento das ciências jurídicas, especialmente no que se refere à preservação dos direitos humanos no Brasil;
• Estudos Políticos e Sociais - desenvolve estudos comparados que se relacionam com o comportamento político e social, desenvolvimento político, e social da comunidade negra;
• Estudos da Cultura Artística - tem como objetivo estudar, promover e favorecer as principais expressões da cultura artística (música, artes cênicas e plásticas), tendo como principal parâmetro o desenvolvimento das artes no continente africano.
• Estudos do Folclore e da Preservação Cultural - desenvolve o estudo das assimilações já efetuadas e incorporadas na vida do brasileiro, bem como da preservação das expressões folclóricas ainda vigentes.
• Estudos da História e da Literatura - objetiva a formulação de estudos da evolução histórica dos povos africanos, através de trabalhos comparativos do desenvolvimento da arte literária afro-brasileira através dos tempos.
• Estudos da Qualidade de Vida - desenvolve suas atividades através de trabalhos que objetivem a preservação da saúde e qualidade de vida, por meio de estudos comparados.

Complementa esse conjunto, uma Câmara de Difusão Cultural, que serve como instrumento de irradiação dos trabalhos gerados pelo Núcleo.
As referidas Câmaras são integradas por pessoas estudiosas, aplicadas, idealistas, voluntárias, de diferentes formações acadêmicas, com o ânimo de ampliar e compartilhar conhecimentos. Nesse mesmo sentido, o NUCAB conta com um expressivo quadro de CONSULTORES TÉCNICOS, integrado por reconhecidas personalidades que se destacam por sua experiência e em suas áreas respectivas de estudos.
Hoje o Núcleo possui três projetos de significativa notoriedade:
• S.O.S Racismo - que tem por objetivo detectar o problema e encontrar soluções quando da existência da prática do racismo, através de apoio jurídico ao cidadão.
• O Nucab vai à Escola - que prepara Professores e comunidade escolar para dar cumprimento à Lei 10.639/03.
• Por Uma Educação Sem Discriminação - que vai em resposta às frequentes denúncias de atitudes de racismo nas escolas.

O NUCAB, por sua experiência e atuação no campo dos estudos africanistas, está se tornando num centro de referência dos estudos da comunidade negra na região de Sorocaba.